"Já viu Tropa de Elite? Bah é muito tri!" Este é o comentário que mais ouço de quem já viu o filme, sem contar que quando o assunto nas rodas de amigos é o filme o que mais escuto são as pessoas imitando as falas do filme. Vi neste final de semana e o filme é muito bom.
Mas muito mais que isto, o que me chamou a atenção foi a situação dos personagens que sabemos mostram a realidade de quem vive inserido naquele contexto... Polícia, favelados, traficantes e burgueses. Cada um em seu mundo, uns em situação bem confortável e outros vivendo num inferno. Na verdade, só os burgueses aparentemente vivem em situação confortável, como retrata o filme. E quanto a eles, concordo plenamente com tudo que foi dito e mostrado. Infelizmente há muito filinho de papai idiota que acha o máximo ficar chapado e nem se dá conta do mal que faz ao financiar o tráfico de drogas. Na real o filme mostra um paradoxo. Os burgueses inseridos numa ONG para ajudar a comunidade, mas que ao mesmo tempo consomem drogas que é o que consome e desola a comunidade.
Os policiais, que acabam infringindo a lei pela qual deveriam punir o não cumprimento desta, por serem mal pagos e literalmente enlouquecidos pela chinelagem em que o “sistema” se transformou. É muita coisa absurda retratada ali e que infelizmente todos nós sabemos que são reais, acontecem no dia a dia deles. Difícil não se deixar corromper, difícil não pirar o cabeção.
E os traficantes? Outro paradoxo, em minha opinião, não há crueldade nenhuma no tratamento que recebem. Chinelo que mata gente e põe droga e armas na mão de criança têm que se ferrar mesmo. Direitos humanos? Ah ta bom! E os direitos de suas vítimas? Primeiro falemos no direito destes, depois nos direito humanos deles. Mas se analisarmos bem... De quem é a culpa? Será que as pessoas já nascem ruins? Querendo ser traficante de drogas e assassinos? Bom, alguns poucos já nascem tortos, mas a esmagadora maioria não. Mas o que acontece então? Novamente quem ferra tudo é o sistema. Como diz a música dos Racionais “eles se espelham em quem ta mais perto”. E com certeza isto é muito verdadeiro. As crianças são influenciadas pelo meio em que vivem e não há como contestar isto. Alguns conseguem ir por outro caminho, mas a maioria não. Não tenho estatísticas em nível nacional, mas tenho exemplos.
Aqui no sul, quem não conhece a cidade de Alvorada? Uma das mais violentas da região metropolitana, senão a mais. Um amigo que vive lá desde a infância relata que do tempo em que era adolescente, só restaram alguns poucos conhecidos ou amigos. Conheço muito bem esta pessoa, e acabei fazendo uma “tabulação” com as informações dadas por ele. Em um grupo de mais ou menos 100 pessoas, apenas 10% não se envolveram com algum tipo de crime ou droga na adolescência. Somente 30 no máximo 35 deste grupo continuam vivos. Dos que continuam vivos, apenas uns 10 ou 11 trabalham ou estudam. O resto está preso ou vive do tráfico. Como eu disse isto é uma estatística baseada em um relato de uma única pessoa... Mas dá para se ter uma idéia...
Aí vem a pergunta? Como não se tornar um fora da lei convivendo 24 horas por dia com este exemplo? Difícil né! E depois que se está nesta vida, muitas coisas que são repulsivas para quem vive no asfalto se tornam naturais para quem está lá em cima no morro. Pronto, temos monstros criados pelo sistema.
Mas o que mais me indigna e me tapa a cara de nojo, é a complacência do brasileiro, assim como as crianças que se tornam monstros nos tornamos bestas adormecidas. É tanto escândalo, tanta corrupção, tanta notícia de morte, assalto e demais barbaridades que nos acostumamos com isto. Crescemos vendo este tipo de coisa acontecer, logo estamos habituados, logo não fazemos nada. Somos a maioria neste país, mas não fazemos nada... Sim, “NÓS” não fazemos nada, isto me inclui e isto inclui quem está lendo isto agora. Fazer parte de uma ONG, fazer trabalho voluntário, ser honesto, etc., etc., etc., não é o suficiente. Nem mesmo dar ao meu filho bons exemplos é o suficiente... É preciso mais. Pois enquanto eu ensino meu filho a não roubar, a ser honesto, a estudar, muitos outros estão nascendo no meio da pilantragem.
O que fazer afinal?