27 novembro, 2007

Apenas um sorriso

O texto abaixo é do David Coimbra... Como eu não tenho o dom das letras, acabo por publicar textos alheios, fazendo apenas algum comentário sobre.
Acho que já falei que algumas músicas têm o dom de cantar nossas dores, nossos sentimentos, nossos amores, nossas vidas, como se tivessem sido feitas para nós. O mesmo acontece com um poema, um texto, um sermão na igreja, uma palestra no centro espírita...

O texto abaixo me fez refletir bastante... Me fez lembrar do quanto eu era “rebelde” e por muitas vezes até cruel com meus pais, sempre irritadinha e cheia de razão, achando que sabia tudo e que eles eram ultrapassados e não sabiam de nada... Isto foi no início da adolescência! Confesso que nunca tive muita paciência com seus sermões, embora na maior parte das vezes ouvisse sem contestar, afinal, eles falariam de qualquer jeito, então era melhor só escutar, sem falar nada para acabar logo.

Só que um dia, tudo mudou... Eu virei mãe! Aí eu comecei a rir de mim mesma quando me dei conta dos meus erros, mas não fiquei me condenando não, afinal de contas só quando se é mãe (ou pai) a ficha cai... Antes mesmo de ser mãe, já estava retornando para meus pais, afinal eu já era adulta. As vezes ainda olho para minha mãe e sorrio, sempre tão resmungona, sempre querendo controlar tudo, incluindo nossas vidas, sempre querendo dar palpite... e penso no quanto ela é mãe, me lembro a todo momento da velha frase, tão repetida por ela “O dia que tu for mãe tu vai entender”... Ela tinha razão, eu entendi.



Apenas um sorriso

Quando minha avó ia sair de casa para morrer, fui visitá-la. Já nem caminhava mais, abalada pelo câncer. Naquele dia, seria transferida para o hospital. Fiquei um tempo ao pé da sua cama, despedi-me, beijei-a, já ia saindo, e ela me chamou.

— Que foi, vó?


Começou a fazer força para levantar. Apoiava-se no colchão, soerguia-se com dificuldade, arfava. Protestei:

— Onde a senhora vai, vó?

Não me deu ouvidos. Pôs-se de pé e saiu arrastando as pernas cansadas pela casa, eu atrás, perguntando o que ela queria fazer, jurando que faria para ela, reclamando. Ela foi até a despensa, atrás da cozinha, e de lá tirou um guarda-chuva. Estendeu-o para mim:

— Está chovendo. Tens que te cuidar.

Em seguida, voltou para cama, para não mais se levantar.
Muito pensei sobre esse gesto da minha avó, praticamente o último da sua vida ativa. Um gesto de amor. Quantas vezes ela fez algo parecido por mim, bem como meu avô, minha mãe, minha madrinha... Quantas vezes. E eu? O que lhe dava em troca? Eu, mais preocupado com o que fazer no fim de semana, com a namorada, com o chopinho com os amigos, eu lhe dava quase nada, eu lhe oferecia migalhas, e muito lamentei por isso, depois que ela se foi.

Mas hoje, com meu filhinho nos braços, entendo a minha avó. Porque ele é tão pequeno, ele não tem nada para me dar, além de um sorriso. Um sorriso, apenas, um pequeno sorriso. Só que... não preciso de mais. O que sinto por ele preenche o espaço de amor que existe entre nós.
Assim, um sorriso já é a minha boa recompensa. Um sorriso é o que me basta. Tomara que tenha dado sorrisos bastantes para a minha avó, tomara, tomara, tomara que pelo menos sorrisos não lhe faltasse, porque o amor que ela tinha por mim não faltou.
Texto publicado em 19/11/07 no caderno Meu Filho de Zero Hora

Um comentário:

Anônimo disse...

ai, que coisa... não gosto desse cara, não. :P

Fungole.com: Try my best

Fungole.com: Try my best